O prefeito de Natal Álvaro Dias (Republicanos) falou pela primeira vez sobre o afastamento entre ele e o senador Rogério Marinho (PL), após a campanha do ano passado, quando os dois caminharam juntos. Segundo revelou o gestor, o distanciamento se deu pelo fato de Marinho ter pedido ao Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) para cancelar convênios com a prefeitura de Natal, o que gerou um prejuízo da ordem de R$ 40 milhões à cidade.
“Em determinado momento ele [Rogério] cancelou alguns convênios antes de sair do ministério ou o sucessor dele, que foi indicado por ele, que o substituiu, cancelou alguns convênios na cidade de Natal. A cidade perdeu em torno de uns R$ 40 milhões de recursos que eram para ter sido utilizados na reforma da orla urbana e de outras obras que a gente tinha planejado”, revelou o prefeito, nesta segunda-feira 25, em entrevista à jornalista Thaisa Galvão, no Falei Podcast.
Após a declaração, Álvaro é ainda mais incisivo ao afirmar que Rogério Marinho, que comandou o MDR durante o governo Bolsonaro, pediu expressamente ao seu sucessor na pasta para cancelar os contratos com a cidade. Apesar do ocorrido, o prefeito garante que não existe rompimento entre ele e o senador, mas apenas um “afastamento natural”.
“Eu não nasci hoje, [os contratos] foram cancelados porque ele [Rogério] falou com o sucessor dele, que ficou lá e autorizou ou pediu para cancelar. Mas tudo bem. Eu não estou rompido com Rogério, eu apenas não tenho o mesmo relacionamento que eu tinha com ele e fiquei muito decepcionado com essa atitude que ele tomou de, depois de eleito, pedir ou conversar com o sucessor dele no ministério e mandar cancelar mais de R$ 40 milhões que viriam para Natal”, pontua.
O prefeito lamentou a posição de Marinho e afirmou que o encerramento dos contratos acabou prejudicando sua gestão à frente da Prefeitura do Natal.
O chefe do Executivo negou, no entanto, que o episódio guarde relação com a exoneração da filha de Rogério Marinho, Ana Beatriz Simonetti Marinho, do cargo de chefe de assessoria de gestão estratégica do turismo. A saída da servidora, ocorrida durante a semana, aconteceu, segundo ele, por questões de saúde e não por motivações políticas.
“Ela estava desempenhando bem as suas funções, mas a partir de determinado momento ela teve problemas pessoais, de saúde e outras questões e não pôde continuar no cargo, mas não teve nada a ver com questão política”, garante.
Álvaro também comentou sobre a campanha para prefeito de Natal em 2024, quando ele não poderá mais disputar a reeleição. O prefeito afirmou que não descarta fazer uma composição com o PT nas eleições de 2024.
A pré-candidata do Partido dos Trabalhadores à Prefeitura do Natal é a deputada federal Natália Bonavides, que tem aparecido em segundo lugar em todas as pesquisas de intenção de voto, atrás apenas do ex-prefeito Carlos Eduardo Alves.
“Em política, tudo é possível, mas a tendência é que eu venha a ter um candidato próprio à Prefeitura do Natal. Até para saber se valeu a pena nossa gestão; se valeu a pena conseguir realizar essas obras que eu sei que vamos realizar, antes de concluir nosso mandato; para ver se a população aprovou nossa forma de administrar, como aprovou na nossa reeleição”, declarou.
“Por esse motivo, eu acho mais difícil haver um entendimento entre mim e a governadora, mesmo entendendo que em política tudo é possível. Mas é difícil”, acrescentou Álvaro Dias.
O prefeito afirmou ainda que tem “bom relacionamento” com a governadora Fátima Bezerra (PT), apesar das divergências políticas e administrativas entre eles. Em 2022, por exemplo, o prefeito de Natal apoiou o candidato adversário de Fátima, o ex-governador Fábio Dantas (Solidariedade).
“Eu não tenho nenhum problema com a governadora. Eu não votei nela porque realmente meu caminho foi outro quando chegou a eleição para o governo. Apoiamos a candidatura de Fábio Dantas. Ela foi eleita. Não tenho nenhum problema com ela, nenhuma desavença, restrição. Tenho bom relacionamento. Espero continuar mantendo esse bom relacionamento”, destacou.
Sobre a campanha presidencial de 2022, Álvaro Dias afirmou que apoiou a reeleição do então presidente Jair Bolsonaro (PL) porque não queria ser classificado como “ingrato”, diante da parceria administrativa entre o antigo chefe do Executivo federal e a capital potiguar. Na visão do prefeito, o apoio ao então presidente era o único caminho que ele poderia seguir.
“Eu apoiei o presidente da República porque não tinha outro caminho para seguir. Se eu trilhasse outro caminho eu ia ser – com muita razão, com muita justiça – considerado um ingrato, um cara desleal, que não reconheceu o impulso, a ajuda que o governo federal deu a Natal”, justificou o prefeito.
Segundo ele, durante a pandemia da Covid-19 Bolsonaro liberou mais de R$ 20 milhões para Natal, montante que ajudou a prefeitura a efetivar as ações que foram implementadas durante a emergência sanitária.
“Nós abrimos um hospital de campanha quando o Governo do Estado, que deveria ter aberto, não abriu. Nós abrimos em tempo recorde, em 45 dias, e esse enfrentamento da pandemia que nós tivemos com o apoio do governo federal foi graças à abertura que nós tivemos junto ao presidente da República”, lembra.
Apesar da posição assumida em apoio a Bolsonaro, em 2022, Álvaro nega ser “bolsonarista” ou “de direita”, mas se autoinsere no espectro político de “centro”.
Agora RN