No filme Invencível, que está emocionando os cinemas, Scott e Teresa descobrem que seu filho, Austin, tem autismo e uma condição óssea rara. A princípio, o mundo desaba. Mas o que move a trama — e os corações do público — é outra coisa: a forma como essa família encontra força, sentido e até alegria na convivência com as limitações. A fé cresce, a gratidão transborda, e a história nos lembra que o sofrimento não precisa ser negado, mas pode ser integrado com dignidade.
É impossível assistir a esse filme e não pensar no que algumas clínicas estão fazendo com o diagnóstico de autismo hoje.
Porque, enquanto famílias de verdade vivem dilemas profundos, o mercado encontrou uma brecha — e tem explorado com voracidade.
Clínicas que pagam o plano de saúde da criança. Sim, você leu certo. O raciocínio é simples e perverso: o laudo sugere autismo, o plano será judicializado, e quando o juiz determinar o custeio do tratamento — que pode passar de R$ 20 mil por mês — o dinheiro entra direto na conta da própria clínica.
O plano paga. A família não vê a fatura. A clínica lucra.
E, no meio disso, a criança vira contrato ativo.
Enquanto Scott e Teresa, no filme, lutam para entender e acolher o filho, há instituições por aqui que estão transformando laudos em ativos financeiros.
Não há milagre nisso.
Há uma lógica fria de investimento e retorno.
O mais triste? Muitas dessas famílias entram de boa-fé, querendo apenas o melhor para o filho. E acabam presas em um sistema onde o cuidado virou produto.
Onde o diagnóstico é estímulo fiscal.
Onde a dor é rentável.
Falar disso não é desrespeitar quem realmente precisa. Ao contrário: é defender os que lutam com dignidade.
É proteger o nome do autismo de ser banalizado.
É dizer, com clareza: sim, há crianças com TEA que precisam de apoio intensivo e multidisciplinar — mas há também interesses que estão corrompendo o caminho até esse apoio.
O milagre do filme Invencível não está na cura, mas na forma como a dor foi vivida com amor.
Fora das telas, talvez o verdadeiro milagre seja manter a ética viva, mesmo quando tudo ao redor parece querer vendê-la.