O comerciante Hasan Rabee, 30, relata que alimentação, água e combustível se tornaram itens cada vez mais escassos, nos últimos dias de espera para ser repatriado ao Brasil.
O brasileiro-palestino vive a expectativa de deixar a Faixa de Gaza nesta quarta-feira para retornar ao Brasil — o nome dele e de mais 33 pessoas pode estar na sexta lista de estrangeiros autorizados a sair do território alvo de Israel.
Além do sofrimento causado pelos bombardeios, o mais difícil agora é encontrar comida. É quase impossível! Muita gente está passando fome. É um terror.
O comerciante saiu de São Paulo para visitar a mãe na Faixa de Gaza no final de setembro e não conseguiu mais sair de lá. Com a intensificação dos bombardeios, ele, a esposa e as duas filhas vivem agora com mais de dez familiares que deixaram o norte de Gaza e se acomodaram na casa da mãe dele, em Khan Yunis, no sul da região.
Rabee diz que está sem energia, água encanada e gás de cozinha. "Mais de 30 dias de guerra, de conflito, e não encontramos gás. Energia não existe mais, água encanada também não. Infelizmente, não há previsão para chegar. A farinha que a gente usa para fazer pão não existe mais no mercado. Macarrão e enlatados a gente não encontra."
Vocês nem imaginam o sofrimento que o povo passa, com criança e sem água e sem luz, muita gente morrendo, passando fome. Umatristeza, espero que ninguém passe por isso.
"Quando elas [filhas] estão com fome, comem pepino porque é mais barato." Segundo o brasileiro, a alimentação da família é composta basicamente por pães, salada e legumes.
Rabee relata que a única forma de preparar alimentos é utilizando madeira, em fornos a lenha. "Muita gente não tinha lenha para fazer essas comidas. Cada dia, piora mais ainda. Na minha casa já não existe mais gás. Os restaurantes estão fazendo comida para doações em escolas, onde tem lugar com bastante gente."
O comerciante conta que os alimentos têm ficado mais caros nos mercados. "O mais difícil é achar farinha, o saco da farinha estava R$ 40 e hoje está R$ 150, R$ 200, R$ 300. A gente não encontra."
Rabee diz que a falta de água é outro problema que atinge parte da população de Khan Yunis. "Cada dia é pior do que o outro. Água encanada a gente já não tinha, nem mineral. Só teremos para poucos dias. Agora, nem água salgada temos."
O grupo em Gaza que espera a repatriação é composto por 18 crianças, 10 mulheres e 6 homens. São 24 brasileiros, sete palestinos com RNM (Registro Nacional Migratório) e três palestinos.
O embaixador do Brasil na Palestina, Alessandro Candeas, informou que há um avião presencial no Cairo (Egito), preparado para repatriar os brasileiros. "Assim que sair o anúncio já está tudo pronto. Levamos os brasileiros com pelo menos dois ônibus", afirmou.
Com as negociações entre os países destravadas, o grupo deve sair de Rafah e ir de ônibus para a capial do Egito. De lá, embarcam em um avião presidencial. Segundo Candeas, o trajeto terrestre tem cerca de 400 quilômetros. "É um caminho bem difícil pelo meio do deserto, com muitos checkpoints."
A quinta lista, divulgada na terça, tinha pessoas de países como Alemanha, Canadá, França, Filipinas, Moldávia, Reino Unido, Romênia e Ucrânia. Antes dessa, foram outros quatro documentos, mas nenhum autorizava brasileiros a deixar o território. No domingo (5) e na segunda-feira (6), não foram divulgadas autorizações.
Em relação à repatriação de brasileiros em Gaza, a Embaixada de Israel no Brasil afirma que o governo israelense "está fazendo absolutamente tudo que pode e que está ao seu alcance para que todos os estrangeiros deixem a Faixa de Gaza o mais rapidamente possível".
"O Hamas está atrasando a saída de estrangeiros da Faixa de Gaza e os utiliza de maneira desumana para se apresentarem como vítimas", declarou a Embaixada.